sábado, 13 de setembro de 2008

capítulo final - Uma experiência pessoal

Uma Experiência Pessoal




Capítulo final

Nunca poderemos prever o que o futuro nos reserva. Por isso a prevenção é a melhor forma de manter nossos filhos longe das drogas.
Minha experiência mostra que as drogas não escolhem classe social, religiosa, idade e acima de tudo hora e lugar.
Nasci em um lar evangélico, ensinado em seus princípios, era comum estarmos nos cultos e reuniões da igreja.
O tempo passou e logo era um adolescente de 16 anos cheio de sonhos e ansiedades.
Muito importante é o lar, e foi justamente neste período de minha vida que presenciei a separação dos meus pais. Meu pai não era religioso apesar dos meus avós serem, e além disto infelizmente era alcoólatra. Difícil coisa é lidar com um alcoólatra. Já somavam 16 anos aquele casamento, digo isto, pois acompanhava todo dia a dia deles. Embora pressentindo a separação dos dois,
foi duro ver meu pai e minha mãe separados. No dia em que isto aconteceu, eu lembro como se fosse hoje, abracei os dois e chorei muito, pedi que aquilo não acontecesse, minha mãe aceitou meu pedido, esperou algum tempo, mas realmente não dava e o inevitável aconteceu. Foi o momento mais difícil de minha vida. Fiquei desanimado com tudo, só pensava em ficar longe de casa. Já trabalhava e coincidência ou não, nesta fase tão difícil foi que eu tive minha primeira experiência com drogas. No próprio trabalho, um colega me apresentou ao inalante, “cheiro da loló”, uma mistura de clorofórmio e essências.
As pesquisas mostram que grande parte dos dependentes iniciam sua escala nas drogas com os inalantes, comigo não foi diferente. Um tempo depois abandonei o trabalho. Deixando o trabalho fiquei ocioso e isto abriu as portas para as drogas.
Comecei a usar maconha com a influência de colegas. A primeira vez foi numa praia, como uma brincadeira, mas que escondia muita dor e sofrimento.
As drogas no inicio se mostram como uma lua de mel, mas com o tempo a dependência se instala. O tempo foi passando, quando dei por mim já consumia cerca de 10 cigarros de maconha por dia, além de cheirar cocaína e até tomar drogas injetáveis, esta rotina era todos os dias do ano.
Durante anos estava eu envolvido neste ritmo. Conheci o desespero da crise de abstinência. Tudo era angustia e sofrimento. Com a dependência surgiu a necessidade de manter o vício. Esta é a hora mais triste, pois você por mais que queira, não consegue manter os valores adquiridos em sua família. No meu caso, iniciei no tráfico dentro do condomínio em que morava. Quando não tinha dinheiro, vendia alguma coisa para comprar drogas. A coisa é tão desesperadora que para conseguir dinheiro, cheguei a guardar armas de uma quadrilha e até dirigir o carro do assalto, graças a Deus que isto aconteceu poucas vezes e logo desisti. Coisas deste tipo vemos todos os dias, só muda o personagem a historia é a mesma.
É chocante quando pensamos nisto, mas a crise de abstinência é assustadora. Durante o tempo que usei drogas adquiri forte dependência, não conseguindo sequer me alimentar se não estivesse drogado. Da igreja já havia me afastado totalmente.
Após algum tempo, percebi que algo estava errado, não poderia continuar naquela situação, foi quando decidi parar de me drogar. Eu não sabia que estava para travar a maior luta de minha vida. Naquele tempo decidi voltar para a igreja, não foi fácil, procurei ajuda com um amigo pastor. Com Deus superei os obstáculos. Os primeiros dias sem drogas foram terríveis, a vontade ardia como fogo. Não consegui me alimentar, tive vômitos, agitação, insônia, depressão e febre, é isto mesmo, febre. Tudo o que comia vomitava. Precisei ter as-sistência médica e ser medicado para baixar a febre e o vômito. Só assim comecei a comer. Aos poucos fui me recuperando, perdi cerca de 10 kilos de peso. Já estava casado e minha esposa era sempre uma força. Precisei lutar muito, ter muita coragem e determinação. Grande ajuda obtive dos grupos de narcóticos anônimos. Em um ano estava bem, recuperei o peso perdido, à vontade de usar drogas passou, retornei a igreja, e me fortaleci.
A vitória na vida de um dependente, deve ser mantida com muito cuidado. Evitar os lugares do uso de drogas e seus usuários, são alguns destes cuidados. Durante o primeiro ano, estive longe de tudo isto mas com o tempo, corremos o risco de nos sentirmos fortes e descuidados em pontos tão importantes. Sem perceber me vi com os amigos da ativa, em seus lugares e convívios. Não estava usando drogas, mas isto era só uma questão de tempo, como foi, recaí. “Vigiar sempre”, para toda vida, eis a palavra de ordem.
Nesta recaída o meu estado foi pior do que antes. Passei a usar mais e mais, era a dependência. Estava desesperado, decidi procurar mais uma vez os grupos de N.A.. Consegui parar algum tempo (3 meses), mas a dependência parecia mais forte agora e logo caí de novo. Durante 2 anos lutei muito contra isto. Era desesperador esta coisa de cair e levantar, mas só não desisti porque eu tinha em mente que precisava vencer e minha determinação fez a diferença. Chega um momen-to em nossa vida que vamos cansando, esta é a pior hora. Eu estava me sentindo tão derrotado que surgia em mim o desejo de morrer. Parecia ser esta a única saída, mas só que não era tão simples assim, eu já estava com 27 anos, casado e com um filho, não poderia fazer um ato tão covarde.
O tempo foi passando e eu já me sentia farto daquilo tudo. A minha única esperança na verdade era a pessoa de Deus, pois é o único com poder de verdade para vencer uma coisa tão forte como as drogas.
Era sexta-feira e eu estava mais uma vez decidido a parar, mas na verdade é que eu precisava de um estímulo, algo que me desse forças.
Me encontrava na praia de Icaraí na cidade de Niterói: eram nove e meia da noite e eu estava drogado, usei muita cocaína e maconha.
Comecei a pensar em minha vida, daí pensei em Deus, fiquei triste, lembrei de muitas coisas boas na igreja, antes das drogas. Muitas vezes pensamos que para irmos a Deus precisamos estar limpos de corpo e alma, mas isto é um engano, pois Deus é amor e foi nisto que eu acreditei.
Naquela hora comecei uma conversa com Deus. “Meu Deus”. Disse eu: “não agüento mais a vida que levo, o meu desejo é morrer e se eu fosse a sua pessoa eu já havia tirado minha vida, porque voltei para a igreja e ainda assim caí. Senhor o que eu mais quero na vida é parar de me drogar. Mas não consigo, acredite. Eu tenho certeza que uma coisa irá me dar muita força. Preciso ter certeza que tu me amas, que estás comigo. Mostre-me isto agora, não sei como, mas diga que tu me amas ”.
Naquele exato momento, 2 moças caminhavam na praia, vinham em minha direção. Ao chegar perto me cumprimentaram, eu perguntei o que queriam, foi quando uma delas se abaixou e me disse: “nós vínhamos pela praia, percebemos que todas as pessoas aqui na areia estão acompanhadas, apenas você está só. Daí sentimos um forte desejo de vir aqui dizer para você, que Jesus te ama muito e não importa o problema que você está passando, ele irá ajudá-lo a vencer, basta você confiar nEle”. Incrível! Elas não sabiam de nada, era Ele, Jesus!
Naquele momento decidi não mais me drogar. Busquei ajuda com meu primo Fábio. Foi com ele, minha esposa e com muita oração que venci aqueles dias de abstinência. Foram dias difíceis. À vontade de usar drogas chegava toda hora e queimava como fogo. A certeza do amor de Deus era sempre uma força para mim, a compreensão e o amor de minha esposa um alento. Esta luta é ganha com muita fé, determinação, força de vontade e a ajuda amiga.
Tenho certeza que toda esta reviravolta em minha vida, a influência de Deus na minha decisão, tem haver com as orações da minha mãe, que mesmo calada em seu canto, fazia da oração a única esperança para minha vitória.
Após aquela decisão lutei muito, todos os dias, os primeiros 2 anos foram terríveis, mas eu estava decidido e graças a Deus tenho vencido limpo desde 1993.
Muito me ajudou a recuperar o tempo perdido os estudos. O trabalho e a igreja, tudo isto preencheu o vazio deixado pelas drogas.
Com o tempo, toda ansiedade e vontade desapareceram, mas os 11 anos de dependência ficaram marcados, por isso preciso vigiar o resto da vida.Hoje,sou um profissional de saúde e também trabalho como conselheiro de dependência química na ARPD.
Como você pode ver, é possível vencer. Com a ajuda de Deus e a força de vontade podemos ser vitoriosos a cada dia. Que esta experiência, seja um estímulo para você, que luta contra as drogas. Para você, que tem um familiar dependente, ou até para você que deseja prevenir-se contra este mal.
Lembre-se caro leitor, diante de um problema destes “só você pode, mas não pode sozinho”.


Um Abraço!

Willy Matos